Formar ou Detectar Talentos ?

O argumento básico de qualquer um que tenha como principal objetivo a conquista de resultados imediatos é de que se faz necessário detectar talentos na escola a partir de testes que mostrem o perfil biológico dos alunos. A através da idéia de que após esses dados serem tabelados, torna-se possível fazer um comparativo com um banco de dados e verificar aqueles que são acima da média populacional (na realidade, a média não é exatamente o índice utilizado para esse tipo de pesquisa).

Digo antes de me alongar no assunto que defendo a integridade da escola como local de socialização de conhecimentos e não abro mão da aula de educação física em detrimento de escolinhas de esporte e muito menos para utilização de projetos de “detecção de talentos”. O espaço da escola não é para isso.

Detectar índices a partir de testes biológicos pode, com certeza, auxiliar no processo de encontrar pontos fora da curva para aqueles determinados testes, porém, será que basta isso para determinar se aquela criança é um potencial talento? Será que esses testes com características tão fechadas e fragmentadas realmente tem alguma serventia?

Trago em discussão, dessa forma, a importância que os fatores biológicos advindos da idéia do inatismo, como por exemplo, a estatura e a estrutura muscular potencial de uma criança e a velocidade, têm para a boa formação esportiva, porém não depositando as fichas de que apenas isso é necessário. Pois além desses fatores, o desenvolvimento cognitivo do aluno, para a resposta aos problemas que o jogo lhe impõe, através de uma metodologia de ensino que valorize essa característica, sem contar nas questões sociais, emocionais, psicológicas e a complexidade de relações entre essas capacidades inerentes a todos ser humano, são necessárias.

Dessa forma, pensar que talentos podem ser encontrados através de testes motores é excluir a idéia de que o ser humano é bem mais complexo do que correr, saltar, alongar e empurrar - protocolo da maioria desses testes.

Outro agravante - em menor grau, em minha opinião - e o fato de que fatores maturacionais podem por vezes interferir nesses testes apontando como “talento” apenas uma criança com índices maturacionais desenvolvidos de forma prematura em relação à sua faixa etária, desenvolvendo por vezes índices de força maior que outros, o que com certeza irá alterar os resultados dos testes utilizados.

Quantas vezes, não tivemos um aluno em nossas mãos que de antemão, devido ao seu “talento”, traçamos seu futuro como esportista, acreditando que ele faria do Futsal o seu futuro devido ao grande diferencial que ele possui entre os jogadores de sua categoria, mas que com o passar dos anos, passa a ser apenas “mais um” dentro do quadro de jogadores de Futsal da região?

Geralmente esse desapontamento ocorre pelo fato de deixar à regalia do próprio aluno a aprendizagem do futsal, pois a velha máxima “em time que ganha não se mexe” passa a prevalecer, agora sob outra ótica: “se o jogador é talentoso, melhor não atrapalhar”.

Ora, isso é abrir mão de nosso papel como professores/treinadores de Futsal. É por isso que “jovens talentos” por vezes acabam não chegando aos níveis de jogo esperado.

Um dos maiores crimes que cometemos no Futsal é termos em mão um jovem jogador “talentoso” - entendam, mas alto que a média de sua idade, mais forte que a média de sua idade, mais coordenado que a média da sua idade, com maior capacidade reativa que a média da sua idade - e darmos para ele a seguinte incumbência em treinos e jogos: “Parte pra cima” “ Chama o jogo e decida” fazendo-o dessa forma achar que jogar Futsal é isso.
Temos que refletir!

O professor de futsal que trata com crianças tem que ter claro o seu papel
de educador, tendo sempre primeiramente o intuito de formar cidadãos e depois a FORMAÇÃO de jogadores.

Um comentário:

  1. Muito bom Professor Adriano, concordo. Ainda mais com esses formadores de escolinhas(caça-niqueis) que prometem um mundo de ilusões onde a criança com o apoio dos pais larga os estudos para se dedicar a "futura carreira". Quando vai para os benditos testes, cai na frustração. Ele foi apenas mais um. E o Professor da escolinha comprova que levou lá, tentou, mas na próxima vai. Assim vai garantindo seu "salário". Sabe Professor Adriano, isso tem sido uma constante aqui no litoral. Eles pegam a franquia de clubes profissionais de renome e utilizam a marca para ganhar dinheiro. Raramente aparece um ou outro talento, mas como garantia do uso da marca, o atleta é deles e o Professor da escolinha ganha uma porcentagem.
    abraços

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