Propostas para Competições no Futsal de Base I


Gostaria de discutir inicialmente algo que penso ter tudo a ver com esse começo de ano.
Muitos de nós participaremos, nesses primeiros meses do ano, de reuniões de ligas e federações, com a finalidade de discutir o cronograma competitivo, regulamentos e modelos de disputa dos respectivos campeonatos.
E, no mesmo ambiente em que se discutem as propostas cronológicas para categorias adultas, juniores e juvenis, estão inclusas as discussões sobre as categorias mamadeira, infantil, mirim e pré-mirim.
Mas o qual é o problema? Você deve pensar. Não seria este um momento oportuno para discutir o calendário competitivo de todas as categorias num mesmo momento?

Claro! Oportuno é. Mas essa oportunidade, muitas vezes, deixam despercebidos grandes problemas relativos ao processo de formação pedagógico-competitiva de jovens e crianças que compõe as categorias de base.
Muitas vezes, tudo o que se decide é igual para todas as categorias. O formato de disputa, as regras, a postura da arbitragem, tudinho é discutido como se todas as categorias fizessem parte de um mesmo contexto, como se em todas as categorias o objetivo competitivo fosse exclusivamente o mesmo, envoltos na clássica visão de que crianças são adultos em miniatura.
Logo, as mesmas regras, o mesmo regulamento, a mesma postura de árbitros e treinadores são reproduzidas para crianças de menos de 10 anos de idade em ambientes competitivos se comparadas aos adultos.
Mas qual é o problema nisso?
Essa pergunta é normal quando a visão de mundo do processo de formação do atleta de Futsal se baseia na mera reprodução do perfil competitivo adulto para crianças, como se essa fosse a melhor forma de possibilitar às crianças o crescimento esportivo, pessoal e social esperado.
Para melhor compreendermos onde quero chegar, pensemos o processo de formação mais comum que existe na sociedade moderna: a formação educacional (em escolas, locais de educação formal).
Sem levar em consideração se o atual currículo de formação está adequado às reais necessidades formativas do cidadão, se os processos avaliativos são verdadeiramente capazes de “avaliar”, se os professores são motivados/capacitados às suas funções, existe na escola algo que a transforma num exemplo a ser entendido: ela possui a preocupação processual na formação do aluno.
Nenhum aluno de primeira série será exposto ao conteúdo “análise semântica” na disciplina de português, como, da mesma forma, que a soma, subtração, divisão e multiplicação serão as bases aprendidas nos primeiros anos do ensino fundamental, tornando possível que Logs, raízes e matrizes sejam calculadas no ensino médio.
Já imaginaram se, tendo em vista que na disciplina de matemática um aluno tenha que estar dominando assuntos complexos como trigonometria e seus ângulos e radianos, senos e cosenos lá no fim do seu processo de formação, o professor do ensino básico já iniciasse aulas de matemática com esses assuntos? Qual seria o resultado da avaliação dos alunos? Qual seria o desenvolvimento desses alunos dentro de 3 ou 4 anos dentro dessa perspectiva formativa? Será que se tornariam capazes de entender como funcionam esses conceitos supracitados?
Claro que a reposta é lógica. A resposta é não e não há professor que seja capaz de ensinar senos e cosenos a alunos de pré-primário.
Isso ocorre devido ao desenvolvimento da inteligência do aluno, que ainda está estruturando a construção dos conceitos lógicos tornando a complexidade desse conteúdo ainda fora de sua zona de desenvolvimento proximal.
Gosto de usar esse tipo de exemplo, pois ele faz as nossas “mascaras caírem” ao falarmos do processo de formação de atletas (no nosso caso, de futsal), pois fica muito claro o problema que vemos no dia-a-dia, em treinamentos formatados para “mini-atletas” e não crianças, pois essa visão nada mais é do que a analogia de um professor que pretende ensinar química orgânica para uma criança recém chegada ao primeiro ano do ensino fundamental.
Se existe num ambiente educacional por excelência (a escola) a preocupação processual, não devemos ter as mesmas preocupações em nosso dia-a-dia nas quadras? Ensinar nosso alunos/atletas conteúdos de maneira a possibilitar a construção o mais completa possível do Futsal dentro das possibilidades alcançadas por cada aluno/atleta?
Geralmente, (e disso não tenho dúvidas) o professor/treinador tem em seus princípios essa preocupação, mas o perfil competitivo no qual está inserido faz com que conteúdos que sejam tipicamente bem dominados em categorias mais velhas sejam precocemente aplicados em categorias muito novas.
Afinal, a competição pode ser comparada ao processo avaliativo, e se a competição exige que crianças joguem como adultos, as aulas pautar-se-ão na visão de treinamentos para adultos, afinal, qual treinador quer ter seus alunos mal avaliados?
O professor, na verdade é um refém que seu auto-impede de modificar isso, pois não consegue perceber que, o que torna o ambiente treino de crianças de 10 e 11 anos tão maçante (com conteúdos inadequados, e abordagem – didática – semelhante àquela de treinadores de alto-rendimento), é o formato competitivo em que esses alunos estarão envolvidos e ao qual ele se rende.
Ou seja, se, regras oficiais são utilizadas em competições de base, elas sistematicamente permitem que o mais habilidoso jogue o jogo todo. Logicamente, ele irá jogar mais que outros menos habilidosos.
Porém, dentro de um processo de ensino bem organizado existem grandes chances desse jogador mais habilidoso, rapidamente ser alcançado pelos menos habilidosos, pois crianças são ávidas por aprendizado, sendo possível observar que em pouco tempo há um nivelamento dos níveis básicos de habilidade de jogadores que inicialmente eram tão distantes nesse quesito.
No entanto, o processo competitivo não está atento a esse fator, valorizando sempre o “mais habilidoso” naquele momento. Logo, sob essa perspectiva, o processo formativo de um terá mais possibilidade de aprendizado do que de outro, isso porque jogar em competições é algo extremante pedagógico e capaz de ensinar. Então jogar mais significa aprender mais.
Agora, se numa categoria pré-mirim, por exemplo, inclui-se uma regra em que o jogo é dividido em 4 tempos de 10 minutos, sendo todos os jogadores devem atuar pelo menos 20 minutos da partida nos três primeiros tempos, garantimos a inserção de todos os inscritos em ambiente competitivo. Logo, o aprendizado na competição está assegurado. Simples não?
Isso possibilitará, ainda, que no dia-a-dia dos treinos, todos tenham chance de aprender, pois todos estarão em quadra, defendendo sua equipe, sem distinção no momento da competição. O professor torna-se um agente que deve ensinar a todos, sem dar preferência a nenhum de seus atletas, pois dificilmente um jogador irá resolver o jogo sozinho nessas condições regulamentares.
Ou seja, o processo avaliativo (a competição) estará regulando o processo pedagógico.
Esse é só um exemplo de adaptação de regras, que levam a novas obrigações de treinadores (em ambiente de treino e de competição) e de envolvimento dos árbitros no processo de formação dos jovens atletas de futsal.
Esse texto vem apenas abrir essa discussão. Irei, nas próximas oportunidades tentar descrever algumas possibilidades de regras adaptadas em ambiente competitivo que possibilitarão aos professores/treinadores ter uma nova visão para a elaboração de suas aulas/treinos e garantir melhorias no processo de formação de atletas de futsal

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