Conforme pode ser observado em textos anteriores, a abordagem deste ambiente de discussão sobre o ensino do Futsal está diretamente associada ao seu ensino a partir de atividades jogadas, adaptadas, enfatizando o ensino do modo de fazer (a técnica em si) em simbiose com as razões do fazer (decisões que envolvam pressupostos cognitivos e conhecimento tático).
Essa forma de abordar o ensino do Futsal, e dos Jogos Desportivos de maneira geral, baseia-se em pressupostos teóricos e metodológicos diferentes daqueles presentes no ensino do jogo sobre a vertente tecnicista.
Ambas são duas formas bastante diferentes de abordar o ensino do jogo e, por conseguinte, são pautadas em diferentes métodos de ensino: o método parcial e o método global.
O método parcial compreende a metodologia analítico-sintética, cujas principais características são a tendência “etapista” (em etapas) do ensino, através de uma fragmentação do conhecimento do jogo em níveis de capacidade de aprendizagem e também em ações que para serem aprendidas devem ser perfeitamente executadas através do seu ensino isolado – Chutar, driblar, passar, etc..
Trata-se, portanto, de uma abordagem baseada em conceitos tecnicistas e desenvolvimentistas.
O método global possui dentre suas formas metodológicas o global-funcional, que aborda o ensino do jogo através de atividades jogadas, com espaços reduzidos, regras simplificadas, variação do número de participantes e tendo como principal característica a manutenção da lógica do jogo nessas atividades, promovendo o transfer do aprendido em aulas e treinos para o jogo, desmistificando aquela idéia de que treino é treino e jogo é jogo.
Trata-se de uma abordagem carregada de conceitos sistêmicos e integrativos que valorizando a presença da complexidade como algo desafiador e capaz de promover a aprendizagem.
Essas abordagens (analítico-sintética e global-funcional), dentre tantas diferenças teóricas, possuem, no entanto, um termo que é comum a ambas, mas cujo conceito deve ser devidamente compreendido – a presença da COMPLEXIDADE.
A abordagem analítico-sintética perpetua que a complexidade deve ser crescente ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Cada vez que o aluno apreende uma nova atividade o grau de complexidade deve elevar-se, pautando-se que o referencial de complexidade está exclusivamente ligado à forma como a atividade é concebida em sua estrutura e organização. Ou seja, quem regula o grau de complexidade da aula é a atividade, devendo partir do simples para o complexo.
Na abordagem global-funcional a presença da complexidade nas atividades está intimamente ligada aos praticantes da atividade e esta deve estar sempre presente nas aulas desafiando e estimulando os alunos a resolverem os problemas do jogo.
Dessa forma, além da estrutura e organização da atividade, a complexidade só pode ser compreendida através dos constrangimentos vividos pelo aluno na atividade.
Dessa forma, a atividade não pode ser julgada como uma atividade “simples” ou menos complexa sem que seja considerada a sua interação com os alunos que a vivenciam, fazendo com que o conceito de complexidade na abordagem global-funcional não possua uma tendência evolutiva e “etapista”, estando ela (a complexidade) sempre presente em níveis de interação que sejam capazes de gerar desafios e desequilíbrios ao aprendiz.
Uma atividade 1×1, por exemplo, numa visão tecnicista parece uma atividade improvável de ser vivenciada por alunos que estejam desenvolvendo conceitos de aprendizagem coletiva, por ser classificada como uma atividade de “baixa” complexidade.
No entanto, pensando sobre o ponto de vista de um atacante da ala esquerda, como justificar que ele não consegue vencer sempre seu marcador direto ao realizar uma marcação individual (no marcador direto) e tentar dissuadí-lo com uma finta?
Sobre o ponto de vista do marcador (marcador direto do posto específico), como justificar que ele não consegue ter êxito defensivo toda vez que tem que marcar o atacante de sua zona?
Simples, porque essa é uma relação complexa, dotada de variáveis que mesmo um jogador atacante e um defensor podem variar a transformar de tal forma a tornar essa atividade motivante, desafiadora e, portanto, complexa e longe de ser uma atividade simples dentro de um processo de ensino-aprendizagem.
Um bom defensor, fintando um mau marcador, tornará a complexidade mais presente para o marcador, e vice-versa.
Porém, um bom marcador enfrentando um bom fintador criará um grau de complexidade de grande valor para ambos, o mesmo em situação de um mau marcador e um mau fintador.
É sobre essa perspectiva que a abordagem global-funcional compreende a relação da complexidade no jogo: sem um caráter etapista e exato, mas como uma capacidade que pode estar presente em toda e qualquer atividade e que para resolver as formas de solucioná-la, o aluno deverá ser capaz de compreender as variáveis do jogo.
Jogar, portanto, como a metodologia global-funcional defende ser a melhor forma de aprender o jogo, acaba sendo por natureza dotada de complexidade, pelo fato de envolver a prática de atividades jogadas e envolvimento do aluno para com ela e não apenas a atividade em si como o definidor do grau de complexidade presente na aula.
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