Mini-jogo não é “só” brincadeira e nem “apenas” coisa de criança

Existem algumas iniciativas nacionais para a divulgação do futsal através da idéia do “mini-jogo da modalidade”.

No entanto, uma dúvida pode surgir: Como essas aulas se desenvolvem? Os jogos são parte fundamental das aulas, ou treina-se o aluno para que ele possa jogar bem o mini-jogo?
Ainda outra questão: Qual é a função do mini-jogo nessa idéia de ensino? Ser mais uma forma de acesso ao Futsal ou ser o objetivo máximo de desempenho de crianças de uma determinada faixa etária, como se essa fosse uma espécie de futsal formal para aquela determinada idade?
Destaco essa questões pois sou um de tantos defensores da idéia do ensino dos Jogos Desportivos Coletivos e, por conseguinte, do Futsal, através de atividades jogadas que possibilitem ao aluno encontrar as respostas mais coerentes para a resolução dos problemas de ordem cognitiva (planejamento) e motora (atitude), ambas indissociáveis se pensarmos a melhor resposta possível de ser encontrada.
Esse tipo de abordagem, ainda que enfrente alguma resistência por parte de professores e treinadores de Futsal, vem sendo colocada em evidência, e, portanto, discutida e aos poucos inclusas em aulas e treinamentos.
No entanto, corre-se um grande risco devido à falta de estudos sobre esse tipo de abordagem, no que se diz respeito à utilização de jogos adaptados e reduzidos: acreditar que seja necessário capacitar pessoas (crianças, jovens, adultos, terceira idade) para jogar bem esse tipo de abordagem, através da sistematização de atividades que os façam desenvolver de maneira otimizada as atividades reduzidas.
Ou seja, tornar jogos reduzidos um fim e não um meio de aprendizado.
Devemos ter cuidado com uma possibilidade que aulas dessa natureza possam atingir: a manutenção de uma abordagem tecnicista e fragmentada que tenha como finalidade o acesso ao mini-jogo com excelência esportiva para aquela determinada faixa etária.
Não, não é esse o caminho. Os mini-jogos devem possibilitar ao aluno acertar e errar, e o erro não deve ser encarado como algo negativo, mas sim parte de um processo de construção, logo, errar também tem um valor positivo no processo de aprendizagem (GARGANTA, 1998).
Logo, o ensino deve partir de atividades jogadas e mini-jogos, cuja finalidade seja fazer o aluno compreender a lógica do jogo, a melhor forma de resolução de problemas em níveis de complexidade oscilantes que somente atividades jogadas podem proporcionar.
Outra preocupação: considerar que reduzir o número de participantes, tamanho da quadra e tamanho do gol resulta em uma atividade menos complexa.
O menor número de jogadores aumenta as chances de participação do aluno na atividade, e isso realmente é bom para a iniciação esportiva.
Porém, isso não garante a simplificação do jogo, tornando-o mais intenso aos jogadores e provocando a diminuição das possibilidades coletivas ofensivas, facilitando a definição de estratégias defensivas, mas também diminuindo as possibilidades de coberturas de eventuais falhas de ações defensivas.
Observa-se, portanto, uma grande complexidade presente nesse tipo de atividade, fazendo-a longe de ser um jogo simples e de ser uma propriedade apenas da iniciação esportiva, podendo, porque não, ser utilizada também no aperfeiçoamento e treinamento esportivo, devido à riqueza de possibilidades que esse exemplo de mini-jogo proporcional.
Logo, projetos com enfoque no mini-jogo devem ser muito bem significados – no que diz respeito à fundamentação teórica e de princípios aplicados – e bem executados – a final, aulas abordadas com ênfase no mini-jogo não devem ser encaradas apenas como ambiente de brincadeiras, risadas, diversão apenas; deve, juntamente com esses aspectos, caracterizar-se como um espaço crítico, de intervenção e busca de sedimentação de aprendizagem e trocas de experiência.

3 comentários:

  1. Oi, Vagner. Parabéns pelo texto. Muito bom. Sou leitor assíduo do blog e gosto do muito do que vejo aqui. Também sou defensor dos "mini-jogos" e do esporte educacional. Minhas principais referências vêm do pessoal do IEE (Instituto Esporte e Educação). Fábio D'Angelo, Caio Martins, Rodrigo Paiva...
    Recomendo para os colegas como aprofudamento o livro "Jogos Educativos: estrutura e organização da prática".
    Tem como você informar de onde tirou essa citação do Garganta? Não conhecia esse autor.
    Muito obrigado. Um abraço.

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    1. GARGANTA, Júlio. Ensino dos Jogos Desportivos Coletivos. Perspectivas e Tendências. In. Movimento, ano IV, n. 8, p.19-27, 1998/1
      Link para downloads http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/2373

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